3 CONSELHOS PARA UMA VIDA COM UM PROPÓSITO

Se você quer construir um navio, não chame as pessoas para juntar madeira ou atribua-lhes tarefas e trabalho, mas sim ensine-os a desejar a infinita imensidão do oceano. (Antoine de Saint-Exupéry)

Podemos concordar com esta imagem que cativa a nossa imaginação e nos leva a pensar em algo além do presente; o convite é para que possamos enxergar o que está no horizonte, do outro lado da margem do continente. Em nosso caso, devemos refletir com seriedade se estamos desejando o fim para o qual fomos criados, aquele supremo propósito onde alcançamos o objetivo desta jornada e nos alegramos de ter encontrado em Deus o alvo de nossas vidas.

Para isto, acredito que 3 conselhos possam nos nortear e auxiliar na caminhada.

1° Aprenda a desejar

O que significa aprender a desejar? Significa que precisamos treinar nossa capacidade de imaginar um télos[1] (uma visão de boa vida) que seja transcendente a realidade temporal a qual estamos inseridos hoje. Como cristãos, compreendemos que nascemos para o Eterno e a eternidade, criados à imagem e semelhança do Deus triúno, o qual é o autor criativo da existência, e que em nós existe a estética pelo divino, pela beleza, por aquilo que o ladrão ou a traça não podem se quer tocar (Mt 6.33).

Devemos aprender a desejar o reino de Deus, aprender a orar com o coração: “venha o teu reino”. Um tipo de desejo que não provêm de lógica racionalista, mas de afeto espiritual de um coração nascido de novo.

O problema para nós que achamos que o ser humano é um cérebro sobre palitos, consiste em concluirmos que ser bem aventurados em nossos propósitos é “ticar” metas em nossos planos anuais de vida. Esta inocência ou falta de cosmovisão cristã é opositora a uma vida com um propósito.

Eu já falei em outro artigo que desejar é amar, e quando eu falo sobre aprender a desejar estou falando sobre como devemos educar o nosso coração a amar a Deus sobre todas as coisas. O amor é como um ímã que atrai aquilo que mais desejamos; o que será de um coração que não é atraído para aquelas coisas (propósitos) de Deus?

2° Seja ambicioso

Cuidado com o que você entende sobre ambição; não confunda ambição com ganância. A ambição cristã é o desejo por grandezas que glorificam a Deus e nos trazem alegrias de correr a nossa carreira em Cristo. Ganância é a fome desordenada por ter, fazer, sentir e se contentar em coisas ou objetivos que não são o verdadeiro Deus. Ganância é uma espécie de culto a ídolos, onde deleitamos os nossos amores a buscar por satisfação eterna em coisas e objetos temporários e finitos.

O filósofo e teólogo reformado, James Smith discorre a respeito disso[2] da seguinte maneira:

Primeiro, o oposto da ambição não é a humildade, e sim a preguiça, a passividade, a timidez e o comodismo. Às vezes, gostamos de nos consolar imaginando os ambiciosos como orgulhosos e arrogantes, de maneira que aqueles de nós que nunca se arriscam, nunca desejam, nunca se lançam às profundezas, usam o manto moralista da humildade. Porém, essa imaginação costuma ser apenas um disfarce fino para a falta de coragem e até a preguiça. Escolher o lado seguro não é ser humilde. Em segundo lugar, é o télos da ambição que distingue o bem do mal, separando a aspiração fiel do engrandecimento egoísta. Agostinho nunca deixou de desejar. O que mudou foi o objetivo, a meta e como ele lutava. O que amo quando anseio por conquistas? Essa é a pergunta agostiniana (p. 94)

Quando não compreendemos que devemos desejar um presente/futuro onde vivemos o propósito de ser a imagem e semelhança de Deus no mundo, crescer, multiplicar, e frutificar na terra, perdemos também a nossa capacidade de relevância. Jesus ilustrou isto de uma maneira muito simples: “Se o sal perder o seu sabor servirá para algo mais, além de ser pisado pelos homens? (Mt 5.13)”.

A covardia, o comodismo, a preguiça e a falta de frutos na vida de um cristão podem estar ligados ao fato de este nunca ter enxergado a vida com os olhos sobrenaturais da fé; e eu não estou falando desse devaneio chamado teologia da palavra da fé que prega um triunfalismo material como sinônimo de ser abençoado.

O que quero dizer é que o cristão moderno se tornou tão obscurecido no seu entendimento sobre o significado do Evangelho que passou a enxergar apenas uma realidade individualista e cinza da vida. Nesta realidade não há cores, não existem aventuras como a de Noé que foi chamado para construir pela fé, onde Abraão foi chamado para peregrinar pela fé, e onde Moisés é chamado a liderar um povo pela fé.

O que seria de nós sem a ambição de buscar a cura de uma doença rara, a vontade de conhecer os milhares de diferentes tipos de bactérias e nomeá-las, de lutar por um mundo onde a cor da pele não é o critério para julgar a dignidade humana. Imagine o mundo sem este tipo de ambição. Imagine se Lutero, Zuínglio, Calvino, Wesley, Edwards, Luter King e tantos outros homens de Deus, se entregassem a covardia, ao comodismo, a falsa humildade, a uma vida sem fé e sem propósito.

Ambição só pode ser ruim se ultrapassar o limite criado por Deus, se ao iniciar uma viajem com destino a cidade de Deus nos apaixonarmos pela paisagem e decidirmos ficar por ali sem nenhuma vontade intencional de chegar ao destino. Fazer da estrada casa é tão perigoso quanto não botar os pés nela. Sobre isso Agostinho, pai da Igreja, diz: “O Amor desordenado é como se apaixonar pelo barco e não pelo destino”[3].

3 – Faça algo – Você é aquilo que faz.

Assim como na frase “você é aquilo que come”, o sentido aqui é o mesmo: “você é aquilo que faz”. Se é assim, então o que estamos fazendo com a nossa vida? As respostas podem ser encontradas nos frutos presentes. O hoje revela como temos vivido, o resultado de nossas práticas está diante dos nossos olhos, sejam bons ou ruins. Somos isto; este que se olha no espelho.

Não me leve a mal, eu sei que podemos cair em dois extremos. Sim, se você nasceu de novo você é filho de Deus, mas alguns filhos de Deus vivem ou são mais parecidos com o Filho de Deus do que outros[4]. A intenção aqui não é diminuir a obra redentiva ao mero pelagianismo. Mas pense comigo, a santificação não seria a transformação de nossas ações pecaminosas em ações redimidas?

Você é um filho de Deus que busca a santificação com senso de urgência ou é daquele tipo de gente que se acostumou com a lama do pecado e do comodismo espiritual?

Fazer algo intencionalmente buscando um propósito em Deus é se opor a qualquer tipo de comodismo, improdutividade, preguiça ou estagnação. Pessoas que consideram a ação de Deus no mundo, se colocam em movimento a fim de serem cooperadores na obra trinitária de Deus. É isto que nos torna pessoas segundo a imagem de Jesus, conforme palavras de Paulo aos romanos:

Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8:29).

Trabalhar, fazer uma faculdade ou especialização, orar, ler a Bíblia, casar, ter filhos, iniciar uma jornada pelas crônicas de Nárnia, praticar exercícios físicos, viajar, evangelizar um amigo ou ser voluntário em uma causa social… São tantas coisas a serem feitas e todas elas podem ganhar ainda mais cor e sabor ao serem executadas em Deus. Nunca é tarde para mudar de atitude ou quem sabe dar a devida atenção a esta parte da nossa aventura pelo reino de Deus. Minha oração é para que todos nós possamos equilibrar uma visão correta de vida com ações coerentes com o nosso chamado supremo; “glorificar a Deus alegremente e em gratidão por todos os séculos”. Amém!

[1] Ponto ou estado de carácter atrativo ou concludente para o qual se move uma realidade. Finalidade. [2] Na estrada com Agostinho, Thomas Nelson, 2020, Rio de Janeiro.
[3] Smith, 99
[4] No sentindo de ações cristãs que se assemelham aquelas de Jesus

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