AS PRIORIDADES DA IGREJA – ADORAÇÃO

Dentre as três prioridades da igreja[1] a adoração é a que fala sobre o nosso relacionamento com Deus. Se no pecado de Adão perdemos a nossa capacidade de nos relacionar plenamente com Deus, o Evangelho carrega a mensagem de que Jesus nos restitui as condições necessárias para uma relação segura com o nosso Criador.

O que é Adoração?

Adoração não pode ser limitada apenas a parte do culto em que cantamos ao nosso Deus. Uma das palavras usadas no N.T para adorar, “proskuneo”[2] , indica que a adoração pode ser entendida como beijar as mãos com reverência, se ajoelhar e curvar com a testa no chão em solenidade, homenagear em respeito um superior, suplicar e etc. A ideia de adoração também pode ser associada ao serviço sacerdotal oferecido a Deus nos tempos da antiga aliança com o povo Israelita.

Quando Deus indicou a Moisés o templo como lugar da comunhão, (adoração) Ele o fez nos seus próprios termos. O pecado era um obstáculo para a comunhão do povo com Deus, entretanto o Soberano propõe formas (caminhos) de isto ser possível. Os sacerdotes trabalhavam minunciosamente para que o seu serviço (adoração) fosse aceito como oferta de paz, de tal forma que toda a nação desfrutasse das bênçãos de Deus e não da sua ira.

Entretanto ao longo do tempo, a adoração se transformou em apenas culto recheado de ritos e vazios de significados. Jesus ao conversar com a mulher samaritana indica a vontade de Deus e a forma correta de se adorar (se relacionar com) o Deus Eterno.

Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo. (João 4:23-26)

A mulher samaritana sabia que a forma e o lugar eram importantes, porém até então, a compreensão das pessoas estava limitada a capacidade humana de propor algo aceitável para Deus. No monte Geresin havia um lugar construído para que os samaritanos pudessem adorar, eles sabiam que os judeus também tinham o lugar deles, o templo em Jerusalém. A própria lei mosaica prescrevia as formas de se adorar (sacrifício de animais, ofertas de cereais, ofertas voluntárias e todo tipo de ritos religiosos).

Não devemos ser simplistas ou desvalorizar os “atos religiosos” como se naquele tempo isto não tivesse valor. A liturgia mosaica era valiosa porque era ordenada pelo próprio YHWH. Porém o novo testamento nos apresenta no Evangelho compreensão mais elevada sobre adoração (relação com Deus). Essa maneira é superior porque não depende da nossa capacidade de oferecer algo (como selecionar o melhor animal, perfeito para a oferta), mas de receber algo e responder em gratidão e verdade.

Os templos ou lugares de adorar são ampliados para o Espírito, o lugar agora é no/em Espírito. Não devemos limitar mais a adoração a subirmos a Jerusalém ou a qualquer outro lugar sagrado; agora o lugar é Deus, porque o Pai procura os que o adoram nEle. A dimensão da adoração deixou de ser um endereço na terra para ser um lugar no Espírito. Os rituais ganham novos significados, passam a ser ritmos que nos levam a uma consciência de gratidão (em verdade).

Chegamos ao ponto de hoje: o Messias é a chave para compreendermos a verdadeira adoração, porque é por meio dEle que chegamos (ou recebemos) ao lugar da adoração (o Espírito) e este lugar não é mais uma construção, mas uma pessoa, o próprio Deus. A forma não é mais uma obra para aplacar a ira eminente, mas uma obra de fé e gratidão, caminho construído pela própria Trindade para comunhão na paz de Deus. A oferta já foi realizada de uma vez por todas, “está consumada” na cruz do calvário. O nosso conceito de adoração foi magistralmente ampliado na obra da redenção.

Conclusão

John Piper diz que “A adoração é o banquete cristão”. Ele diz isso porque sabe que o cristão não se aproxima de Deus por meio de holocaustos ou confiando em formas, mas pelo Espírito de Deus em ousadia, na obra redentiva entregue na graça do Pai a nosso favor. Adorar não é mais oferecer a Deus algo para que Ele não derrame a sua ira contra nós, mas se alimentar da relação que conhece a cada glória revelada o amor de Deus no Evangelho.

Existe um livro muito interessante sobre adoração na igreja local intitulado “Louvor”. D.A Carson é um dos autores e ele trabalha o conceito de adoração como uma resposta adequada a Deus. O conceito é emprestado de Robert Shaper[3] que afirma:

adoração, assim como o amor, é caracterizada pela simplicidade intuitiva (todos “sabem” o que é adoração, assim como todos “sabem” o que é o amor) e a complexidade filosófica (quanto mais você tenta definir amor ou adoração, mais difícil se torna a tarefa).

Agora que Cristo, “Cordeiro de Deus”, tirou o pecado do mundo (dos eleitos) a adoração se tornou expressão de amor e gratidão constantes na vida do que foi salvo. Se na antiga aliança todo o serviço sacerdotal era adoração, na nova aliança fomos feitos “sacerdócio real” (1Pe 29), tudo o que somos e fazemos deve ser feito em verdadeira adoração ao Pai.

No gênesis, Deus compartilha sua imagem com os homens de forma que estes podem viver (adorá-lo/amá-lo) para a sua glória completamente. O cultivar a terra, governar sobre os animais, cuidar do seu semelhante e tudo o mais era a adoração pretendida. No entanto, na queda perdemos esta capacidade e o que era para ser integral se tornou esporádico. Por isto, afirmo que cantar na igreja não pode ser limitado a adoração; adoração é tudo que é feito em nome de Deus e para a glória de Deus, o Pai, na perfeita comunhão trinitária.

Espero que possamos pensar nessas coisas ao falar sobre as nossas prioridades como Igreja de Jesus. Que nas coisas mais simples como escovar os dentes ou colocar o lixo para fora, adoremos ao nosso Deus com gratidão e verdade, conscientes da sua graça e comunhão provida em Cristo para o nosso bem.

[1] Adoração, Discipulado e Missão [2] Strongs [3] Louvor, Thomas Nelson, 2017, p. 24

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