Um tema muito importante, porém muito controverso é a contribuição financeira nas igrejas. A maioria dos problemas quanto a este tema giram em volta dos dízimos. Portanto, para iniciar nossa conversa, vamos fazer um resumo de como a prática do dízimo surgiu e foi desenvolvida no Antigo Testamento (A.T.), bem como, seu uso no Novo Testamento (N.T.) e por fim, veremos como as contribuições financeiras se desenvolveram na Igreja Primitiva e é adotada por nossa comunidade de fé.
No A.T., o dízimo teve quatro momentos: oferta voluntária (Gn. 14:20), tributo obrigatório para sustento dos sacerdotes e levitas (Lv. 27:30-33; Nm. 18:21-28), tributo periódico para celebração do povo e cuidado dos pobres (Dt. 12:5-18; 14:22-27; 26:12-15) e tributo pago aos reis (1Sm. 8:15,17).
No N.T., o dízimo aparece na prática religiosa judaica que é criticada pelo Senhor Jesus (Mt. 23:23; Lc. 11:42; Lc. 18:12). Após a ascensão do Senhor não vemos essa prática sendo adotada ou citada pelas igrejas. Esse “abandono” pode ser explicado pelo fato da Igreja ser de maioria gentílica (lembrando que aos gentios não é esperada a adoção ao judaísmo e suas práticas (Atos 15)).
Ao longo do livro de Atos e das cartas, vemos que a Igreja desenvolve a prática de ofertar financeiramente para manutenção da pregação do Evangelho e para auxílio aos necessitados (At. 4:34-37; 1Co. 9; 16:1-4; 2Co. 8-9; Fl. 1:5; 4:15-16; 1Tm. 5:17-18), prática que já existia no judaísmo do tempo de Jesus (Mt. 10:10; Lc. 8:1-3; 10:7).
Diante disto, listamos o que cremos acerca dos dízimos e ofertas:
1. O dízimo não é mandamento válido para a Igreja, hoje:
O dízimo como mandamento, era uma prática do sistema sacrificial judaico. Não foi adotado pela igreja primitiva gentílica e, posteriormente, foi abandonado pelo próprio judaísmo após a destruição do templo em 70 d.C.
2. Todo cristão deve adorar a Deus com seus bens materiais e financeiros:
Como o Senhor Jesus nos ensinou: ou adoramos a Deus ou adoramos as riquezas (Mt. 6:24). A forma como nos relacionamos com o dinheiro, denuncia quem adoramos. Jesus ensina que você deve ser generoso caso queira adorar a Deus com seu dinheiro (Mt. 6:22-23).
3. As ofertas são para manutenção da pregação da Palavra e auxílio aos necessitados:
Pelo exemplo da igreja ao longo dos séculos, principalmente no primeiro, aprendemos a ofertar financeiramente para manutenção do trabalho dos presbíteros que cuidam do anúncio do Evangelho (Mt. 10:10; Lc. 8:1-3; 10:7; 1Co 9; Fl. 1:5; 4:15-16; 1Tm 5:17-18) e cuidado dos necessitados (At. 4:34-37; 1Co. 16:1-4; 2Co. 8-9).
4. As ofertas devem ser voluntárias, constantes, proporcional ao que tem e com alegria:
É esperado do cristão um coração voluntário que se alegra em repartir as bênçãos que Deus concede (1Co 8:2,4,10-12; 9:2,7). Assim como Deus supre nossas necessidades constantemente (Mt. 6:25-34), Ele pode constantemente nos fazer abundar em toda boa obra (1Co 9:8), por isso, é esperado constância em ofertar. Entretanto, não é esperado que oferte o que não pode ou que irá te sobrecarregar (1Co. 8:12,13).
5. Deus multiplica as ofertas:
Diferente do que muitos pensam, Deus não multiplica as ofertas para enriquecimento do ofertante, mas a multiplica (1Co 9:6,8-12) em seus efeitos, pois elas se tornam motivo de outros louvarem a Deus (1Co 9:11-13). Multiplica as sementes daquele que semeia voluntária, generosamente e com alegria para que, estando suprido, possa transbordar em boas obras (1Co 9:7-11). Não oferte querendo ser rico, pois Deus tem interesse em prosperar aqueles que irão abençoar outras pessoas.
Ponderações Finais:
Alguns irmãos têm dificuldades em contribuir financeiramente com suas igrejas por diversos motivos, mas uma das maiores dificuldades está relacionada ao valor ou percentual da renda que será ofertada. Para te ajudar com isso, gostaria de sugerir uma referência e uma observação para você adotar na hora de ofertar.
A referência que você pode tomar para ofertar é o próprio dízimo. Muitos irmãos adotam a prática de ofertar 10% de sua renda, por achar mais fácil o cálculo e acreditarem que é um percentual generoso da sua renda. O reverendo Augustus Nicodemus, por exemplo, cita casos de igrejas em que os membros são tão ricos que a orientação para os irmãos é que oferte no máximo 5% de sua renda, porque se ofertasse mais a igreja teria tanto dinheiro que não teria o que fazer com ele.
O Senhor Jesus no Sermão do Monte, diz:
se a justiça de vocês não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrarão no Reino dos Céus (Mt. 5:20).
Por isso, deixo aqui uma observação: Não devemos nos limitar por uma referência, como 10%! Lembra da comparação que o Senhor Jesus fez da oferta da viúva com a oferta dos ricos (Mc. 12:41-44). Os ricos davam grandes quantias, mas não lhes custava nada, eram sobras. A viúva deu tudo o que tinha, todo seu sustento. Veja, não estou dizendo para dar tudo o que tem, mas para que não seja avarento ao ponto de ofertar as sobras, porém, sabendo que o Senhor é quem te sustenta seja generoso ao ofertar.
Por fim, podemos seguir o exemplo das igrejas históricas que utilizam a nomenclatura “dízimos e ofertas” para se referir a dois tipos de contribuições financeiras na igreja. Neste caso, “dízimo” se refere a contribuição mensal preparada com antecedência e “oferta” se refere a contribuição espontânea e esporádica.