INTRODUÇÃO AO PENTATEUCO | T. D. ALEXANDER

DESIGNAÇÃO1

O Pentateuco engloba cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. O título “Pentateuco” vem da palavra grega pentateuchos, que significa “obra em cinco volumes”, um título que pode ser rastreado até o terceiro século d.C. Enquanto os cristãos tendem a preferir a designação “Pentateuco”, os judeus tradicionalmente se referiam a esses livros pelo título “Torá”, um termo hebraico geralmente traduzido por “lei”, embora uma tradução melhor poderia ser “instrução”. A designação “Lei” remonta a antes do tempo de Jesus; o prólogo do apócrifo Eclesiástico (escrito aprox. em 132 a.C.) usa “a Lei” para se referir aos primeiros cinco livros do AT.

Enquanto o uso do termo “Lei” para o Pentateuco tem uma longa história, em tempos anteriores referências ao “Livro da Lei” (p. ex., 2RS 22:8,11, 2Cr 17:9, 2Cr 34:14) e à “Lei” (p. ex., 2Rs 21:8; 2Cr 25:4) provavelmente se referem ao material agora preservado em Deuteronômio 5-26. De acordo com Deuteronômio, Moisés, já idoso, deu aos israelitas “a Lei” para que moldassem o seu estilo de vida na terra de Canaã. Esse material estende-se de Deuteronômio 5:1 a 26:19 (ou 30:20). Moisés então confiou uma cópia escrita dessa lei aos sacerdotes (Dt 31:9), que deveriam colocá-la ao lado da Arca da Aliança (Dt 31:26). Josué 1:7-8 menciona esse mesmo “Livro da Lei”. Vários títulos intimamente associados a Moisés designam esse “Livro da Lei”: o “Livro da Lei de Moisés” (p. ex., Js 8:31; 23:6, 2RS 14:6, Ne 8:1), a “Lei de Moisés” (p. ex., 1Rs 2:3; 2Rs 23:25; 2Cr 23:18; 30:16; Ed 3:2; 7:6, Dn 9:11,13), e o “Livro de Moisés” (p. ex., 2Cr 25:4, 35:12, Ed 6:18, Ne 13:1). Em algum momento, no período pós-exílico, o título “Lei” foi aplicado a todo o Pentateuco.

PANORAMA

Os cinco livros de Gênesis a Deuteronômio narram uma história extraordinária que abrange vários estágios cronológicos distintivos.

Período primevo (Gn 1-11)

Gênesis 1-11, muitas vezes chamado de período primevo, registra uma série de episódios seletivos na história inicial da humanidade. Esses eventos são altamente significativos porque moldam o restante da história bíblica (cf. “A criação”, p. 2504).

Período patriarcal (Gn 12-50)

Gênesis 12-50 é muitas vezes referido como período patriarcal. A vida de três homens predomina: Abraão, seu neto Jacó e seu bisneto José. O filho de Abraão, Isaque, também desempenha um papel importante na história, assim como os irmãos de José, especialmente Judá. O papel especial que essa família tem nos propósitos de Deus explica a proeminência que Gênesis 12-50 lhes confere (cf. “O povo de Deus”, p. 2534). Deus lhes dá promessas que antecipam (1) a criação de uma nação que tomará posse da terra de Canaã e (2) a vinda de um futuro rei, descendente de Abraão, que mediará a bênção de Deus para as nações da terra (cf. “A aliança”, p. 2508, “O Reino de Deus”, p. 2524). Mediante esse prometido rei, Deus reverterá as consequências da expulsão de Adão e Eva do jardim do Éden. Essas duas promessas principais determinam a direção para o restante da história de Êxodo a 2Reis, e daí em diante.

Mosaico bizantino na Basílica de São Vital, em Ravena, Itália, mostra Moises recebendo os Dez mandamentos.

Do Egito ao Sinai (Êx 1:1-Nm 10:10)

Êxodo salta adiante para uma época em que uma sucessão de faraós no Egito escraviza e trata duramente os descendentes cada vez mais numerosos de Abraão. O nascimento e a morte de Moisés estruturam os livros de Êxodo a Deuteronômio. Como aquele a quem Deus escolheu para levar os israelitas para fora do Egito, Moisés ocupa um lugar central nesses livros.

Êxodo 1-15 concentra-se na libertação dos israelitas do Egito por Deus e culmina em uma canção de vitória (cf. “O exílio e o êxodo”, p. 2521) e os capítulos 16-18 descrevem brevemente a viagem deles ao monte Sinai. Então o ritmo da narrativa diminui. A história concentra-se na relação da aliança única que Deus estabeleceu com os israelitas. Noticiar esse evento e suas consequências imediatas domina Êxodo 19-40, todo o Levítico e Números 1:1-10:10. A criação dessa relação de pacto é marcada (1) pelo alistamento de várias obrigações que os israelitas devem cumprir (p. ex., os Dez Mandamentos) e (2) pela construção de uma tenda, ou tabernáculo, que se tornará a morada de Deus entre seu povo escolhido (cf. “A Lei”, p. 2511, “O sacrifício”, p. 2518, “O templo”, p. 2514). Ao viver entre eles, o Senhor transforma os israelitas em uma nação santa. As implicações disso são apresentadas mais plenamente em Levítico, que coloca ênfase especial em como os israelitas devem viver uma vida santa (cf. “A santidade”, p. 2538).

Do Sinai a Moabe (Nm 10:11-Dt 34:12)

Depois de um período de quase um ano, os israelitas deixam o monte Sinai e viajam pelo deserto para a terra de Canaã (Nm 10:11-36:13). Infelizmente, a fé do povo em Deus esmorece. Quando o temor das nações que vivem em Canaã faz os israelitas se rebelarem contra Deus, eles são castigados por ele e passam quarenta anos no deserto. Somente após a morte dos adultos que deixaram o Egito se torna possível para a próxima geração de israelitas entrar na terra de Canaã. Enquanto muitos capítulos de Números se concentram nas falhas dos israelitas, os últimos capítulos os preparam para a vida na Terra Prometida. Deuteronômio desenvolve ainda mais esse tema.

Quando Deuteronômio começa, os israelitas estão acampados à leste do rio Jordão, próximo de Jericó. Moisés, perto da morte, encoraja o povo a renovar a aliança que Deus iniciou no monte Sinai. Ele lembra às pessoas que a obediência trará a bênção de Deus, e a desobediência, a morte. Depois de lançar esse desafio, Deuteronômio termina relatando a morte de Moisés na terra de Moabe. Embora isso assinale o fim do período da liderança de Moisés, o Pentateuco é uma história inacabada. Os israelitas ainda estão fora da Terra Prometida, e as promessas de Deus aos patriarcas continuam sem concretização.

Embora muitas vezes as pessoas vejam isso como uma seção independente da Bíblia, o Pentateuco está muito intimamente ligado ao que prossegue. Os livros de Gênesis a Reis formam um relato contínuo, com cada livro subsequente pressupondo tudo o que os livros anteriores contam. Portanto, devemos interpretar os livros individuais do Pentateuco à luz desse todo maior, que, por sua vez, precisa ser lido à luz de toda a Bíblia.

AUTORIA

Dada a proeminência de Moisés de Êxodo a Deuteronômio, não é nenhuma surpresa que ele deva ser associado com a composição do Pentateuco. Nas várias expressões para o Pentateuco, o nome de Moisés ocorre com frequência. O próprio Jesus refere- -se ao Pentateuco como “livro de Moisés” (Mc 12:26), “Lei de Moisés” (Lc 24:44, cf. Jo 1:45) e simples- mente “Moisés” (Lc 16:29; cf. Lc 24:27, 2Co 3:15). Não surpreendentemente, em vista da proeminência que esses títulos dão a Moisés e à alta posição em que as gerações posteriores o mantiveram, Moisés é um candidato óbvio para ser o autor do Pentateuco. Apoio adicional para isso vem do próprio Pentateuco, que diretamente credita a Moisés a autoria de seções do material, mais notavelmente o “Livro da Aliança” em Êxodo 20:22-23:33 (cf. Ex 24:4,7), e o “Livro da Lei” em Deuteronômio 5-26 ou 5-30 (cf. Dt 31:9,26). Na ausência de concorrentes óbvios, há muito para elogiar a opinião de que Moisés compôs o Pentateuco.

Evidências pós-mosaicas

Embora a evidência a favor da autoria mosaica seja persuasiva, algumas características do Pentateuco podem apontar para uma conclusão diferente. Certos detalhes pressupõem um conhecimento dos fatos que ocorrem após a vida de Moisés. Entre alguns dos exemplos mais óbvios estão estes: Gênesis 13:7 parece ser escrito a partir da perspectiva de um autor que viveu em um momento em que não havia cananeus ou ferezeus vivendo na terra de Canaã; Gênesis 14:14 refere-se à cidade de Dã, mas esse nome foi dado à cidade de Laís somente depois que a tribo de Dã a capturou (Jz 18:29); e Gênesis 36:31 possivelmente alude à existência de uma monarquia israelita. Outra característica que pesa contra a autoria de Moisés é o modo de o Pentateuco normalmente se referir a ele na terceira pessoa. Números 12:3 apresenta possivelmente a maior dificuldade: “Ora, Moisés era um homem muito paciente, mais do que qualquer outro que havia na terra”. O homem mais paciente [ou humilde] da terra escreveria isso? (ao colocar esse versículo entre parênteses, a New International Version dá a entender que alguém diferente de Moisés escreveu isso). E Deuteronômio 34 relata a morte de Moisés. Essas e outras observações semelhantes devem advertir contra uma crença excessivamente dogmática de que Moisés escreveu absolutamente tudo no Pentateuco. No mínimo, devemos permitir a possibilidade de atualização editorial ou acréscimos explicativos. Além disso, em nenhum momento o Pentateuco afirma claramente que Moisés compôs tudo o que estava contido nesses cinco livros. Quanto a Gênesis, Moisés pode ter tido contato com materiais escritos já existentes.

Monte Nebo, onde Moisés fez seu discurso aos israelitas (Dt 32.49)

A erudição crítica moderna

No mundo da erudição acadêmica, o consenso de opinião em grande parte rejeita a ideia de que Moisés escreveu o Pentateuco. As sementes para tal perspectiva podem remontar ao final do século XVIII, quando o conceito do Iluminismo da evolução ou progresso foi aplicado ao desenvolvimento de ideias religiosas. Rejeitando o relato bíblico de como a religião israelita começou, alguns estudiosos construíram suas próprias teorias baseadas no pressuposto de que todas as religiões evoluem de uma forma primitiva para uma mais avançada. Ao aplicar essa filosofia à Bíblia, esses estudiosos argumentaram que a maioria dos livros bíblicos era composta de materiais de diferentes períodos cronológicos. Posteriormente, o estudioso alemão Julius Wellhausen defendeu com sucesso considerável uma teoria agora conhecida como Hipótese Documentária.

Prolegomena zur Geschichte Israels (Prolegómenos à história de Israel), de Wellhausen (publicado pela primeira vez em 1578 sob o título Geschichte Israels) oferece uma maneira radicalmente diferente de ver a história da religião israelita. Ele rejeita a autoria mosaica do Pentateuco, argumentando que quatro autores, agora comumente referidos como Javista, Eloísta, Deuteronomista e Sacerdotal, escreveram a maioria dos materiais que compõe os livros de Gênesis a Deuteronômio. Em termos de datação do trabalho desses autores, Wellhausen situa o Javista em cerca de 40 a.C., o Eloísta em cerca de 700 a.C., o Deuteronomista em cerca de 623 a.C., e o Sacerdotal em cerca de 500-450 a.C. Ao reorientar as diferentes seções do Pentateuco dessa maneira, ele rejeita a antiga tradição de que a religião hebraica se originou em grande parte no tempo de Moisés. Em vez disso, Wellhausen propõe que os verdadeiros fundadores da religião israelita foram os profetas do final do século IX e VIII a.C. Eles foram os homens que inspiraram o monoteísmo ético (isto é, a crença em um Deus vinculado a elevados padrões éticos).

Embora a Hipótese Documentária de Wellhausen tenha dominado os estudos do AT ao longo do século XX e ainda desfrute de algum apoio, um número crescente de estudiosos questionou abertamente sua metodologia e suas conclusões. Embora teorias alternativas tenham sido propostas para explicar como o Pentateuco foi composto, isso continua a ser uma questão aberta ao debate. Infelizmente, os pressupostos da Hipótese Documentária ainda continuam a influenciar a erudição do AT.

Uma colagem literária

A questão da autoria é complexa porque os materiais que compõem o Pentateuco não são de natureza uniforme. Os livros de Gênesis a Deuteronômio contêm uma rica mistura de materiais que refletem diferentes formas literárias. Há, por exemplo, narrativas de diferentes extensões e complexidades, genealogias de diferentes tipos, bênçãos paternas em estilo poético, canções, obrigações de alianças, jurisprudências, instruções para a construção de itens cultuais e diretrizes para realizar atividades religiosas. Se Moisés estruturou o Pentateuco tal como o conhecemos, ele provavelmente valeu-se de materiais que outros compuseram, especialmente para Gênesis. Não obstante a variedade de formas literárias no Pentateuco, esses materiais são habilmente misturados em conjunto de acordo com um plano global. O Pentateuco é uma colagem literária na qual diferentes materiais produzem uma história notavelmente rica e vibrante.

Embora a história do Pentateuco pareça distante dos leitores modernos tanto cronológica quanto culturalmente e possa parecer com frequência remota e obscura, ela explica com autoridade os estágios iniciais da atividade redentora de Deus no mundo.

A questão de quem escreveu o Pentateuco nunca deve desviar a atenção da tarefa mais importante de entender sua mensagem. Embora muitos leitores modernos considerem o conteúdo do Pentateuco remoto e obscuro, os livros de Gênesis a Deuteronômio estabelecem o fundamento sobre o qual repousa toda a Escritura. Sem uma consciência desses livros, não podemos entender o restante da Bíblia.

O PENTATEUCO DA PERSPECTIVA DA TEOLOGIA BÍBLICA

Embora a história do Pentateuco esteja muito afastada dos leitores modernos tanto cronológica quanto culturalmente e possa parecer com frequência remota e obscura, ela explica assertivamente os estágios iniciais da atividade redentora de Deus no mundo. Isso explica por que nosso mundo exibe todos os sinais de ser ordenado e caótico, ambos ao mesmo tempo, e aponta adiante na esperança de um tempo em que Deus vai fazer todas as coisas certas por meio de Jesus Cristo.

Propósito da criação de Deus

Gênesis começa com Deus criando o mundo e nomeando seres humanos para governar em seu favor sobre todas as outras criaturas terrenas (cf. “A criação”, p. 2504). Subjacente a essa comissão está a expectativa de que os vice-regentes de Deus encherão a terra, estendendo o santuário do Éden para tornar o mundo inteiro numa residência divina (cf. “O templo”, p. 2514). Implícito em tudo isso está a criação de uma cidade santa onde Deus viverá cercado por aqueles que o servem e o adoram afetuosamente (cf. “A cidade de Deus”, p. 2528).

Infidelidade e rebelião

Em contraste com essas expectativas, os primeiros capítulos de Gênesis registram como uma serpente singular tenta Adão e Eva a se rebelarem contra Deus. Tendo sido instruídos a governar todas as outras criaturas, eles deixam de exercer autoridade sobre a serpente e, por suas ações, submetem-se à sua autoridade, e não à de Deus (cf. “O pecado”, p. 2506). Seu comportamento tem consequências terríveis: eles são apartados de Deus e expulsos do jardim do Éden s (cf. “A ira”, p. 2542). Embora a humanidade mantenha sua capacidade de governar, ela não faz mais isso como Deus pretendera. A violência é a marca da presença da humanidade na terra, resultando mais tarde em punição divina mediante um dilúvio devastador. Apesar disso, mesmo depois do dilúvio, a humanidade continua desafiadora. Gênesis 11 registra outro incidente de excesso de confiança humana, quando as pessoas conspiraram em conjunto para construir uma cidade com uma torre que lhes poderia dar acesso ao próprio céu. O nome “Babel” torna-se sinônimo do desejo da humanidade de substituir Deus e governar a terra e o céu. Não surpreendentemente, seus esforços ficam muito aquém da sua arrogância, quando Deus desce e faz o povo tagarelar de modo confuso.

Um Salvador prometido

Embora o tema dominante de Gênesis 3-11 seja a rebelião da humanidade contra Deus e suas consequências trágicas para a Terra, esses capítulos não estão destituídos de um vislumbre de esperança. Ao condenar a serpente, Deus pronuncia um julgamento que contém um importante elemento de esperança. Deus adverte a serpente: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3:15). A expectativa de que um dos descendentes da mulher esmague a serpente introduz um tema que percorre todo o livro de Gênesis e além. À medida que antecipamos a descendência da mulher, Gênesis 4 começa por se concentrar em como o filho de Eva, Caim, mata o irmão Abel. A tragédia desse evento é sublinhada pelos descendentes de Caim que parecem seguir os passos do pai. Até a sétima geração, Lameque se gaba de matar um homem que o machucou (Gn 4:23). Então, notavelmente, a narrativa salta de volta no tempo para observar que Adão e Eva tiveram outro filho, Sete (Gn 4:25). Sete, o substituto de Abel, mantém viva a esperança de que a serpente ainda pode ser derrotada.

 Uma genealogia em Gênesis 5 destaca a importância de Sete e termina com o nascimento de Noé, “homem justo, íntegro entre o povo de sua época”, que “andava com Deus” (Gn 6:9). De Noé, outra genealogia em Gênesis 11 conduz a Abrão. Em contraste com o cenário do afastamento da humanidade de Deus, o Senhor indica que por meio de Abrão “todos os povos da terra serão abençoados” (Gn 12:3). A extensão da narrativa dedicada a Abrão/Abraão sublinha sua importância nos propósitos redentores de Deus (Gn 11:27-25:11). Ele será “o pai de muitas nações” (Gn 17:4), mas não apenas no sentido biológico. Os descendentes de Abraão serão aqueles que exercem fé em Deus assim como ele. Além disso, Deus promete que sua bênção virá “a todas as nações da terra” mediante um dos descendentes de Abraão (Gn 22:18). Essa expectativa se baseia na promessa anterior de Deus a respeito da prole da mulher em Gênesis 3:15 e segue o curso além de Abraão para seu filho Isaque e seu neto Jacó. Deus abençoa a todos, e eles, por sua vez, medeiam a bênção de Deus para os outros. Depois de Jacó, José é aquele que carrega o manto de bênção desde que seu pai o nomeou primogênito sobre seus irmãos mais velhos (1Cr 5:1-2). Embora Gênesis trace a linha de filhos “primogênitos” de Abraão a Efraim (Gn 48:17-20), Gênesis 38 inesperadamente focaliza a linhagem de Judá, particularmente seu filho Perez, que, no nascimento, surge à frente do “primogênito” Zerá, seu irmão gêmeo. Mais tarde, quando Jacó abençoa seus doze filhos, ele vincula a futura realeza à tribo de Judá. Deus rejeita a tribo de Efraim como a tribo real no tempo de Samuel, e a tribo de Judá a substitui com o filho de Jessé, Davi, o rei ungido (S1 78:67-72). Por fim, a linhagem real de Davi leva a Jesus Cristo, por quem Deus cumpre suas promessas a Abraão (At 3:22-26, Gl 3:16).

Um paradigma da salvação

Enquanto o Gênesis está especialmente interessado em rastrear a prole da mulher, os livros de Êxodo a Deuteronômio se baseiam na expectativa de que os descendentes de Abraão tomarão posse da terra de Canaã, onde Deus residirá entre eles. Com esse fim em vista, Êxodo descreve como Deus redime o povo de Israel da opressão no Egito, resgatando da morte seus primogênitos do sexo masculino. O relato da Páscoa fornece um paradigma para a salvação divina quando Deus santifica os israelitas para que eles possam se tornar um sacerdócio real e uma nação santa. Deus posteriormente ratifica uma aliança com eles antes de vir residir em um tabernáculo recém-construído no meio do acampamento israelita (cf. “O templo”, p. 2514). Essa série de eventos não só reverte parcialmente o estranhamento causado pela rebelião de Adão e Eva contra Deus no jardim do Éden, como também, e ainda mais importante, prefigura um êxodo muito maior que virá mediante Jesus Cristo (cf. “O exílio e o êxodo”, p. 2521).

Uma nação santa

À luz da presença de Deus entre os israelitas, Levítico enfatiza como eles devem refletir a santa natureza de Deus. De várias maneiras, eles são ensinados a associar santidade com integridade e vida, enquanto a impureza está associada à imperfeição e à morte. Levítico sublinha que a santidade exige perfeição moral, não apenas a realização de rituais cultuais (cf. “A santidade “, p. 2538).

A morte da geração do Êxodo no deserto serve como advertência séria da importância de confiar em Deus continuamente e obedecer a ele. Como observa o apóstolo Paulo: “Essas coisas […] foram escritas como advertência para nós” (1Co 10:11). Moisés enfatiza como os israelitas devem demonstrar lealdade exclusiva a Deus, a fim de desfrutar os benefícios de ser o povo escolhido dele. Tendo sido resgatados da escravidão por Deus e depois de se comprometerem livremente a obedecê-lo de modo pleno e exclusivo, Deus julgará os israelitas em conformidade. Infelizmente, os livros restantes do AT testemunham em grande medida do fracasso dos israelitas, mas também esperam antecipadamente um tempo quando Deus instituirá uma nova aliança para substituir a ratificada no monte Sinai (cf. “A aliança”, p. 2508).

De uma perspectiva da teologia bíblica, o Pentateuco é um componente essencial da Escritura. Não só explica a causa da situação humana, mas, mais importante, aponta para a esperança de como Deus resolverá essa questão por meio de Jesus Cristo. Em última análise, como os capítulos finais de Apocalipse antecipam, Deus trará à perfeição sua finalidade na criação deste mundo, quando o antigo Éden será transformado na Nova Jerusalém (cf. “A consumação”, p. 2556)

  1. T. D. ALEXANDER. BÍBLIA DE ESTUDOS THOMAS NELSON 2021. SÃO PAULO (p. 40-46) ↩︎

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *