E Jesus lhes declarou. Eu sou o pão da vida; quem vem a mim jamais terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede. Mas como já vos disse, vós me tendes visto e mesmo assim não credes. Todo aquele que o Pai me dá virá a mim; e de modo algum rejeitarei quem vem a mim. Pois desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum de todos os que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia. Porque esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. (João 6:35-40)
Duas coisas que intrigam o pensamento moderno são: “Deus é soberano” e “Deus é gracioso”. Estas duas afirmações a respeito do caráter de Deus parecem não caber na concepção moderna de quem é Deus.
Jesus começa esse diálogo dizendo que Ele é o Pão da vida, que nele há acesso a graça de Deus, ao alimento eterno que o homem tanto deseja. Mas quem pode chegar lá? Somente aquele que faz parte dos planos soberanos de Deus. Nossa liberdade ou capacidades são falhas em nos garantir êxito mesmo diante de tamanha salvação. A nossa conversa hoje será sobre a “soberania e graça” de Deus.
Deus é soberano
Deus é independente de tudo e de todos. Ele age de acordo com Sua própria vontade. Quando Ele diz: ‘Eu farei’, o que quer que diga será feito. Deus é soberano, e Sua vontade, não a vontade do homem, será feita (Spurgeon).[1]
A Bíblia nos apresenta do início ao fim um Deus soberano, criando um universo pela sua palavra e vontade, interagindo na história, direcionando-a para o cumprimento pleno dos seus sábios e santos decretos.
No contexto bíblico (criação, queda, redenção e consumação), Cristo é apresentado como o personagem principal, sendo no final de toda a história coroado em majestade e glória como Rei de toda a criação. Por outro lado, nós seres humanos, somos os vilões, pecadores, obstinados ao mal e a inimizade com Deus.
Entretanto, a reviravolta nesta narrativa está no fato de Jesus morrer pelos nossos pecados como oferta de resgate para que, se antes inimigos de Deus, fossemos tornados filhos e filhas do Pai de Jesus.
O Pai de Jesus é Deus, Jesus é Deus, o Espírito Santo é Deus. A teologia descreve essa unidade como “trindade”. A pergunta que deveríamos fazer as Escrituras não é: “Deus existe?”. Deveríamos buscar a resposta de outro questionamento: “Quais são os planos desse Deus que é?”, se ele é soberano eu preciso saber como sou afetado por sua vontade.
Jesus se apresenta como o Pão da vida, isto é, somente Nele podemos obter salvação. Nos planos soberanos de Deus pecadores estão sendo salvos, ou seja, se alimentando de Jesus pela fé. Por mim mesmo não posso me favorecer, a não ser que esta seja a vontade do Pai. Dentro de mim sei que não sou digno de reivindicar nada do Soberano, porque estou convicto de que sou pecador. O fato de Deus ser soberano é glorioso, mas sem a sua misericórdia e graça, o ser humano deveria se sentir apavorado diante de tal verdade.
Deus é gracioso
Quem crê em Jesus jamais terá fome ou sede. Entretanto, a fé não é um dom (presente)? Como crerei se não for agraciado?
A pergunta e reposta destas e outras questões relacionadas à salvação são perturbadoras e confrontantes. Em algum momento você vai experimentar a primeira verdade, e pela graça de Deus a segunda resposta o encontrará.
Algumas pessoas viram Jesus, o Salvador, e não creram. É perfeitamente possível ter experiências legítimas com Deus e não ser salvo, continuar incrédulo quanto ao Messias e não se alimentar do Pão da vida. Entretanto, o Pai está levando (pela graça) pessoas à fé em Jesus, e elas estão saciando a sede e a fome espirituais que há tanto tempo sentiam. Não foram elas que se soltaram das correntes da incredulidade, porém, agora livre para viver uma nova vida, buscam com todas as suas forças a união com Cristo pela fé e relacionamento.
Deus o Pai, está presenteando o Filho com “pecadores arrependidos”; este é o escândalo da graça de Deus. Que o Pai ama o filho e nós somos incluídos nessa relação de amor. Essa não é uma ótima notícia? John Piper[2] ao tratar sobre este assunto comenta:
A doutrina da graça irresistível não significa que toda influência do Espírito Santo não possa ser resistida. Significa que o Espírito Santo, sempre que quer, pode vencer toda a resistência e tornar sua influência irresistível. […] Mais especificamente, a graça irresistível se refere à obra soberana de Deus em vencer a rebelião de nosso coração e trazer-nos à fé em Cristo, para que sejamos salvos. […] Se estamos mortos em delitos e pecados, sendo incapazes de submeter-nos a Deus por causa de nossa natureza rebelde, jamais creremos em Cristo, se Deus não vencer a nossa rebelião.[3]
Conclusão
Em sua unidade perfeita de vontade e propósito, o Pai e o Filho envolveram-se na salvação de todos os crentes. Isto vale tanto para os crentes com uma unidade (como no v.39) como para cada crente como indivíduo (como no v.40). Nenhum crente precisa ter medo de ser esquecido na multidão de companheiros na fé. A comunidade como um todo e cada membro da comunidade individualmente foram dados pelo Pai ao Filho, e serão guardados em segurança pelo Filho até consumar-se a vida ressurreta no último dia.[4]
Na soberania e graça de Deus há segurança para nossas almas, alimento para nossa fé em Jesus. Temos muitos motivos para nos alegrar e não temer o mal, pois é Deus quem garante que toda a sua vontade seja feita em nossas vidas e na sua história redentiva.
[1] MAIA,2007, Fundamento da teologia reformada. São Paulo, Mundo Cristão [2] Cinco Pontos do Calvinismo, p. 30,31 [3] Ibidem [4] F.F Bruce, Introdução e Comentário de João, p.140. 1983