ABANDONANDO OS ÍDOLOS E RESGANTANDO A GLÓRIA DE DEUS

A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. (Romanos 1:18-23)
A reforma e o Soli deo Gloria

A reforma protestante trouxe o tema da glória de Deus para o centro do debate teológico. Sabemos que, naquela época, homens haviam ocupado o lugar de Deus na igreja e na sociedade, literalmente “se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato”. Aqueles realmente foram tempos de escuridão sobre a humanidade e a Igreja que deveria ser luz, lançava sobre o mundo uma nuvem de “impiedade e perversidade”.

Naquele tempo, se embelezavam as catedrais com ouro, prata e pedras preciosas, aos objetos eram atribuídos poderes e honras e aos altos clérigos glória e total submissão. Deus já não era um fim para os propósitos humanos, mas um meio para algo mais sublime. A cruz estava lá, mas Cristo havia sido retirado das canções, das palavras, da vida religiosa, da ceia; o Deus triúno era rejeitado onde deveria ser glorificado.

É nesse tempo que Deus reforma a sua igreja, pois aqueles homens haviam corrompido o que era para ser belo, porém o brilho dos tesouros conquistados pelas indulgências era considerado “madeira, palha e feno” por Deus. Então uma luz brilha no centro de todo esse caos: é Deus levantando sua Palavra como um farol para o seu povo, “a Escritura, o Cristo, a fé, a graça e a glória de Deus” começam a tomar espaço no meio da Igreja outra vez. Se homens do diabo trabalhavam para construir o inferno na Igreja, Deus levantava seus reformadores como engenheiros de um novo tempo. Todos eles tinham algo em comum: não buscavam a si mesmos, e nem interesses escusos, apenas a glória de Deus revelada em Cristo.

Você é o que você adora – Smith, Piper, Edwars, Calvino, Agostinho e outros

Li em uma obra de James Smith[1] sobre como nossa adoração nos transforma à semelhança do que adoramos. Evidentemente, Smith sustenta a ideia de que sempre estamos adorando alguém ou alguma coisa. Por exemplo: o trabalho pode deixar de ser um meio para um propósito maior e se tornar um fim, nessa relação você se torna adorador ou “escravo” e passa a basear sua esperança de “paz, sucesso e alegria” nele. Até mesmo sua identidade está baseada na sua vida profissional a ponto de, se por acaso, você for demitido ou a empresa falir, seu mundo acabar e você deixar de existir.

À semelhança deste exemplo, não somente o trabalho pode se tornar um falso deus (ídolo) em nossas vidas, mas também a esposa, os filhos, a igreja, o pastor, o celular, o carro, a casa, um artista ou qualquer “ser humano, animal, ou objeto sem vida”. Segundo o Apóstolo Paulo, não é a falta de Deus que faz com que as pessoas busquem um substituto, mas a dureza no coração. Afinal de contas, na própria revelação geral Deus deixou elementos suficientes para que o homem o reconheça e o busque.

Smith em outra obra[2] explica esse movimento antropocêntrico como rejeição do Deus soberano pelo Deus que existe para me servir e satisfazer. Ele cita Rodney Clapp e o que ele chama de teologia do Ursinho Pooh: “Ouvi uma abelha zumbindo; onde há abelhas, há mel, e onde há mel, deve ser para mim. (posição 320)”

John Piper em seu livro ”Em Busca De Deus” trabalha o tema da glória de Deus de maneira brilhante e singular; a sua fala sobre satisfação em Deus é sem dúvida algo inspirador e orientador, pois para ele “Adoração é o banquete cristão (posição 1284)”. A satisfação do verdadeiro cristão se baseia no viver em oposição ao que Paulo condena no texto de Romanos 1:18-23: se o ímpio suprime a verdade, nós amamos a verdade, se eles adoram a criatura, nós buscamos intensamente o nosso Criador, se os seus olhos estão obscurecidos, abrimos bem os nossos olhos para enxergar em todos os lugares a sublime e esplêndida glória de Deus.

Os sermões de Edwards marcaram uma geração. A combinação de profunda teologia cristã e afetos incendiaram mentes e corações no século XVIII. Ao comentar 1Pedro 1.8, Edwards considerou a emoção proveniente da busca da glória de Deus em Cristo como fator central na experiência religiosa. Com sua célebre frase “O coração do homem é uma fábrica de ídolos”, Calvino sabia o que Deus estava fazendo em seu tempo: destruindo deuses falsos e pela sua Palavra reformando corações.

Agostinho é um dos primeiros líderes cristãos pós era apostólica a pensar sobre a perdição humana e como a nossa salvação está totalmente ligada ao plano de Deus em nos restabelecer em Si mesmo. Quando diz “Criaste-nos pra ti” o bispo de Hipona está nos lembrando de que “Fomos criados para a glória de Deus”, nunca nos contentaremos com algo menor do que o próprio Deus glorioso.

Todos esses homens de Deus têm algo em comum em seu argumento: primeiro, apontando para a pecaminosidade humana e incapacidade de viver plenamente sem Deus, segundo, a respeito dessa consciência de que Deus proporciona um caminho para Si mesmo no Filho, e que a Palavra nos revela a nossa salvação.

Conclusão

Algumas pessoas até hoje estão convencidas de que o cristianismo é uma religião que melhora a nossa vida pessoal, mas o cristianismo não é essa religião. Ele, de fato, fala de muitos benefícios que podemos ter em seguir a Cristo, e o primeiro deles é que deveremos morrer, pois no Evangelho do reino de Deus para viver e ver essa realidade é necessário nascer de novo e sem morte não há ressurreição.

Na ressurreição encontramos não uma vida melhor, mas uma nova vida (1Jo 5.11) e isso meus amigos, muda tudo. Nessa nova vida, em um novo mundo (o reino de Deus), as coisas são diferentes e as ordens naturais são invertidas: agora não vivo mais pra mim mesmo, mas Cristo vive em mim e para a glória de Deus (Gl 2.20). As coisas velhas (aquela maneira decadente de viver) já passaram e eis que tudo se fez novo, tudo que sou e tenho é de Cristo, pois Ele é meu senhor e minha paz, segurança e alegria se encontram no Deus triúno. Uma nova jornada se inicia e aquelas antigas palavras começam a fazer sentido: “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém. (Romanos 11:36)”

Eu preguei em nossa igreja um mensagem com este mesmo tema, assiste aí

[1] Você é aquilo que ama, Vida Nova, 2017

[2] Cartas a um jovem calvinista

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