ENCONTROS NECESSÁRIOS (JOÃO 4.1-30)

era-lhe necessário atravessar a província de Samaria. (João 4.4)

Samaria era uma cidade dentro do território israelita. O povo que ali vivia era descendente de Abraão, mas considerado mestiço pelos judeus por terem se unido a povos pagãos, no passado. O samaritano era desprezado pelo povo Judeu e havia entre eles uma espécie de ressentimento que os afastavam da comunhão e da paz (Jo 4.9).

Os samaritanos preservavam no centro de suas práticas religiosas somente o “Pentateuco” e o templo como local de adoração construído no monte “Gerezin”. Assim como os samaritanos não eram bem-vindos em Jerusalém, os judeus não eram bem-vindos ali. Entretanto o Evangelista diz que era necessário Jesus passar por aquele território.

O destino de Jesus e de os seus discípulos era a Galileia, ao norte, partindo da Judeia (veja o mapa). Entretanto havia um caminho mais curto as margens do Jordão (esse caminho era cercado por gentios e havia também certos riscos para o viajante). Alguns dizem que o caminho pelo Jordão seria o melhor em questão do tempo, mas ao observar o texto, nos parece que Jesus está mais interessado em pessoas do que em estradas. Qual a necessidade então?

A necessidade era “o encontro”, guarde isso em sua mente: Jesus tinha em vista se encontrar com uma mulher. Se para um judeu a ideia de se encontrar com um samaritano já era algo terrível, imagine uma mulher samaritana.

Ao escutar de Jesus “dar-me de beber” aquela mulher não faz ideia do que estava para acontecer em sua vida. O Messias não está agindo aleatoriamente na história; cada palavra e ato tem um propósito e a samaritana está preste a descobrir que ir naquele dia quente ao poço foi a melhor coisa que lhe aconteceu.

Uma mulher buscando água, sozinha, sob o sol escaldante é algo incomum, pois o costume era realizar essa tarefa na presença de outras pessoas em um horário mais adequado. A conversa corre para um rumo em que aquela “anônima” descobre que nada está escondido diante do homem que lhe encontra. Ele pergunta onde está o seu marido e ela admite que nem isso lhe restou. Jesus sabe que ela vinha de um passado de solidão e vergonha, e ela se vê em mundo sem cor, sem dignidade e quase sem futuro. Quase, porque o pouco que ela sabe sobre a sua tradição lhe garante um Messias. E talvez seja somente isto que tenha restado naquela mulher: a sede de um futuro onde alguém pode salvar-lhe e consertar o que foi arruinado pelo pecado de Adão.

Água viva

Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva (João 4.10).

“Dar-me de beber” essa foi a resposta da mulher. O encontro tinha motivo, era necessário, pois essa era a missão do Messias: restaurar a comunhão dos homens com o Eterno, essa obra redentora é mais do que tirar o pecador do inferno “seja ele qual for”, é transformação de pessoas e realidades. Algo tão extraordinário que emana vida eterna como uma fonte a jorrar. Quem não quer isso? O poço milenar que Jacó cavou até hoje tem água, porque ele foi cavado justamente em cima de um lençol de água “Uma fonte que jorra”, um verdadeiro milagre. O que Jesus está dizendo é que Judeus, Samaritanos e todo tipo de gente vive buscando satisfação e salvação no que homens construíram. Ele porém está propondo para nós uma obra definitiva e muito mais sublime. F.F Bruce ao comentar essa passagem diz:

A comparação frequente da lei com água refrescante, nas tradições rabínicas, sugere que aqui Jesus está oferecendo algo superior não só à água do poço de Jacó mas também à religião legalista de samaritanos e judeus conjuntamente. Podemos desconfiar que suas palavras fizeram soar uma certa campainha no ouvido da mulher. A liturgia samaritana do Dia da Expiação (certamente bem posterior) diz sobre o Taheb (o equivalente samaritano ao Messias dos judeus): “Águas manarão de seus baldes” (frase emprestada do oráculo de Balaão em Nm 24.7). Será que este estrangeiro estava pro metendo dar aquilo que era esperado do Taheb? (p.100)
A cidade daquela mulher

Jesus é o Messias e isto é o que mata a sede da mulher, pooa Ele é fonte de vida eterna. Aquela mulher abandona o seu “cântaro” porque a sua necessidade natural foi relativizada por algo sobrenatural. Ela descobriu que Deus estava procurando adoradores e ela foi encontrada. Adoração é fruto do encontro salvador, a obra do Messias é transformação de dentro para fora, é vida que emana e sempre que ela tivesse sede de Deus poderia buscar no seu interior, onde o Espírito Santo habitaria e revelaria o “local” do verdadeiro culto que Deus quer.

Não mais em Jerusalém ou Gerezin, no templo, arca, tabernáculo, Deus é Espírito e o local do encontro é espiritual. Agora não se trata mais de uma localização geográfica, mas de um lugar divino: Cristo Jesus. Deus está acessível e já mandou boas notícias aos homens: em Jesus o encontro está garantido, aquele que tem sede, venha e beba.

O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida (Apocalipse 22.17)

Ela parou de pensar em si, em suas necessidades e em sua reputação. Aqueles que ela evitava agora eram o alvo do seu encontro, era necessário que eles se encontrassem também com Jesus. Aquela mulher se tornou evangelista assim que entendeu o propósito do encontro. Ela transformou a experiência com Jesus em ação prática, foi à cidade e buscou um povo para se encontrar com o homem que havia lhe revelado os planos de Deus.

Eles saíram da cidade e foram ao encontro dEle. Era necessário passar por Samaria, não por causa da estrada, mas por causa das pessoas. Se não compreendermos isso, nossa missão nesse mundo se tornará vazia e sem glória. Amar a Deus significa amar o que Deus ama, e Deus ama quem Ele é o que Ele faz. Consigo mesmo Deus é um ser relacional, pois na Trindade temos o modelo, os seres humanos recebem da dádiva de congregar uns com os outros e isso é uma benção. Na salvação, o resgate é para a união com Deus e com aqueles que foram criados a imagem de Deus.

A Trindade revela o caráter pessoal e relacional de Deus. “O Deus triúno da graça, que se revela como um ser em comunhão, criou-nos à sua própria imagem para que possamos encontrar nosso verdadeiro ser-em-comunhão com Ele e com o próximo. ” O ser de Deus é um ser relacional, e sem o conceito de comunhão é impossível falar sobre a realidade de Deus. A partir da Trindade nada existe por si mesmo, individualmente. Comunhão é a razão de ser do homem (BARBOSA p. 62).
Bibliografia:

João – Introdução E Comentário. F. F. Bruce. Vida Nova

O Caminho do Coração. R. Barbosa. Encontros Publicações

Commentary Matthew Henry.

Comentário Judaico do Novo Testamento. David D. Stern. Atos

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