No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (João 1:1)
Estamos diante de um dos versos mais importantes das Escrituras Sagradas. João, o discípulo amado, apresenta Jesus como o divino criador de todas as coisas encarnado em sua própria criatura; um paradoxo onde o Deus que não pode ser contido em seu próprio universo, agora habita em um endereço, “Jesus, o Nazareno”.
Estudiosos e cientistas afirmam que “o universo abriga 2 trilhões de galáxias, dez vezes mais do que os astrônomos acreditavam.”[1] É como se existissem mais estrelas no cosmos do que grãos de areia no planeta terra. Isso deveria nos fazer pensar em nossa pequenez diante da criação de Deus.
O paradoxo de tudo isso, é que o Evangelho nos convida a um relacionamento justamente com o Ser por trás da criação existente. Se não bastasse a afirmativa de que existe um Deus e que Ele é criador de tudo o que existe (Gn 1.13), no centro da narrativa das boas novas está o clímax: Deus que é infinito criador dos céus (universos) e terra (nosso planeta) deixa os céus (lugar divino que transcende o visível) para habitar em forma humana entre a sua criação (Jo 1.14).
Deus existe! O Evangelho afirma que existe somente um Deus (Dt 6.4), entretanto, como pode João dizer que O Verbo de Deus (Jesus) estava com Deus e era Deus? Outro paradoxo, Deus é um ser que é composto por três pessoas divinas.[2]
A trindade é quem existe antes de tudo o que conhecemos vir a existir. E Deus que é suficiente em si mesmo, não tendo necessidade de qualquer outra coisa externa, cria para si galáxias e seres e dentre toda a criação nós, os seres humanos, recebemos particularidade singular “Imagem e semelhança de Deus”. Por que e para que? Agostinho, Calvino, Edwards, Piper e tantos outros poderiam certamente nos dizer: Por amor e para sua própria glória.
Desculpem a digressão, estamos falando do Filho eterno de Deus, como diz o antigo credo:
Deus de Deus, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, de uma só substância com o Pai; pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo da Virgem Maria, e foi feito homem; e foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos. (Credo Niceno-constatinopolitano, 381?)[3]
Pela primeira vez, os nossos olhos viram o Deus sublime. Aquilo que só era contemplado nas regiões celestiais está diante dos olhos dos primeiros discípulos, Ele recebeu um nome “Jesus”, precisou ser amamentado por uma jovem e necessitou dos primeiros cuidados exigidos pela incapacidade de um recém-nascido.
Humilhou-se se entregando as condições humanas e passou pelas experiências do que é ser e existir em um mundo caído. Jesus, mesmo sendo a essência do amor e daquilo que é mais belo em todo o universo, foi rejeitado e desprezado pelos seres que foram criados para Ele. Mais uma vez deveríamos lamentar que não nos damos conta da complexidade que é obra de Deus em nosso favor. Ele “Deus” veio ao mais profundo abismo nos resgatar para si mesmo. Não delegou isso a anjos ou profetas, eles não poderiam realizar perfeitamente essa obra. Veio Ele mesmo por nós!
O céu invadiu a terra em uma criança, essa criança cresceu, brilhou sua luz por onde passou e as trevas (ambiente dominado pelo pecado de Adão) não puderam prevalecer contra ela, porque aquela Palavra de Deus “haja luz” brilhou sua luz em Jesus (Jo 1.5).
Homens e Mulheres que recebem o testemunho com fé neste Deus e em sua obra trinitária de redenção são também agraciados com a dádiva de se tornarem filhos de Deus, participantes da comunhão divina e do grande plano que é especialmente revelado em Jesus Cristo (Jo 1.12).
Ninguém jamais viu a Deus antes de o próprio Deus se revelar em uma pessoa, Jesus, o Verbo encarnado. Neste encontro de céu e terra, Jesus plenamente humano e divino, a verdadeira expressão de Deus, a trindade constrói um novo e vivo caminho de volta a comunhão entre humanos e divinos.
O Deus que disse haja e por meio de Jesus tudo se fez, agora diz: Venham a Nós e sejam redimidos para cumprirem o propósito a qual vocês foram criados. Reflitam a minha imagem e anunciem ao universo as obras do eterno, glorioso e majestoso Deus.
[1] Disponível em: https://veja.abril.com.br/ciencia/universo-tem-2-trilhoes-de-galaxias-10-vezes-mais-que-o-esperado/ Acesso em 07 de jun. 2021
[2] Não podemos compreender estas pessoas como seres humanos, mas como pessoas divinas. Pessoas no sentido de que cada uma das pessoas da trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) são distintas umas das outras e misteriosamente ligadas pelos seus atributos e natureza divina.
[3] Credo niceno-constatinopolitano, ano 381