Essa história é bem conhecida de todos nós. Jesus e os seus discípulos participam de uma festa de casamento e, de repente, o vinho acaba. Evangélicos de nosso país poderiam até ver nessa situação uma eventual providência divina, mas não se engane: o Deus dos Evangelhos não tem problemas com festas e vinhos.
Apesar dos nossos preconceitos, Jesus transforma água em vinho, isto é “vinho de verdade”, não um simples suco de uva. Aquele que é a fonte de todas as coisas criadas transforma a natureza química naquilo que Ele quer, afinal de contas, Jesus é Deus. Este é o seu primeiro sinal como Messias Prometido.
O casamento
O casamento, tanto na cultura cristã quanto na cultura judaica, é muito valorizado. Primeiro, porque ele é uma instituição criada por Deus, através da qual pessoas de todos os lugares da terra seriam abençoadas. Segundo, para que fique evidente que na comunidade de duas pessoas, o reflexo da comunhão divina se reverbere, afinal de contas, Deus é uma trindade relacional.
Jesus, ao comparecer ao casamento, atesta o matrimônio como um ambiente para que a glória de Deus possa ser revelada. Talvez até esteja apontando para o grande “mistério” de Deus, isto é, a Igreja e Cristo em uma relação eterna de amor e glória.
O vinho que acaba e o novo vinho, por que um sinal?
De quem foi a culpa? Do anfitrião da festa que não tinha recursos ou de alguém que calculou o número de convidados errado? Não se sabe ao certo. A questão é: se o vinho acabar, acaba a festa, e com ela a reputação dos noivos e familiares, o que deveria ser um momento de alegria poderia se tornar lamento e tristeza.
O vinho novo, em oposição às talhas de pedra, pode representar e apontar para a glória futura de Jesus após a sua obra da redenção. As talhas de pedra cheias de águas representavam a antiga tradição judaica: água para purificação, para lavar as mãos, para lavar os pés e para alguns utensílios. Jesus ao transformar água em vinho poderia estar sinalizando a nova aliança feita com o povo de Deus, por meio do seu próprio sangue, esmagado como uma uva, na cruz do calvário.
Uma festa
Que lugar para um primeiro sinal, não é mesmo? Jesus poderia ter feito este mesmo milagre diante de uma multidão mais importante, atestando sua superioridade em relação aos mestres da lei e autoridades da época. Mas não foi o que ocorreu, talvez porque o reino de Deus seja mais semelhante a um casamento. Sim, por que não pensamos no reino de Deus como esta festa?
Festa de casamento tem música, comida, bebida, deleite e alegria. Tem convidado que estava na lista e convidado que apareceu de última hora, afinal de contas, Jesus estava chamando os discípulos e nem a sua mãe e nem as famílias sabiam quem viria acompanhado com ele. Em resumo, havia mais gente do que se esperava; “será que nas bodas do Cordeiro, festejaremos com gente que nem imaginávamos que viria para a festa? Mistério!”.
Além de tudo as festas daquele tempo eram grandes banquetes com muitas mesas e lugares: reparem que eles precisaram de uma pessoa que administrasse a festa. Quando pensamos no reino de Deus podemos construir em nossa mente um reino pálido, com pouca cor e simplista. Em nossa dificuldade de “imaginar” (dom que Deus dá às crianças e que nós, adultos, suprimimos para que ela se torne sem graça como nós), projetamos um reino que tem Jesus em um trono, um palácio de ouro e pedras preciosas, mas sem música, sem comida, sem festas e coisas como neste casamento.
Quando Deus fala que uma mesa está sendo colocada diante de nós, eu só penso em Natal (é uma das celebrações que eu mais gosto). As festas de casamento dos nossos dias são como ir a uma praça de alimentação em um shopping; a diferença é que a conta da comida e da bebida está sendo paga pelos noivos. No Natal não é assim: temos comida, presentes, conversas, músicas, criança correndo e a boa e velha bagunça própria de celebrações tradicionais (Desculpe este antigo hábito de divagar, voltemos ao texto).
“Não é chegada a hora”: Ele diz a mulher, sua mãe. Poderíamos dizer; “Tenha modos, Jesus!”, mas falar deste modo não era desrespeitoso, ao contrário. A sua mãe prossegue: “Façam tudo o que ele disser”. Está aí algo que os evangélicos precisam reconhecer e se inspirar em Maria: ela confia que Jesus irá cuidar das coisas.
Um antegosto da Glória
Um antegosto da glória de Deus em Jesus é provado pelas pessoas que ali estão; a matéria da água transformada em vinho anuncia o que viria a acontecer com o ser humano glorificado nos últimos dias, a natureza transformada e redimida pelo poder de Deus, mediante a obra do Messias.
Não é errado confiar que Jesus pode cuidar de coisas consideradas “superficiais em nossa vida”: vinho, casamento, uma oportunidade de emprego, uma vaga na faculdade, um artigo esportivo para o seu lazer ou algo do tipo. A questão é que algumas pessoas focam tanto no milagre que esquecem o milagreiro. Jesus não é um simples realizador de sonhos ou super herói que nos salva das nossas enrascadas.
Jesus é Deus, e Deus, meus amigos, vai à festas de casamento e faz coisas que não imaginávamos só para revelar a sua glória. No final das contas o vinho poderia ser o melhor, e o milagre era de fato extraordinário, mas já pensaram que algo mais especial aconteceu? Jesus estava lá! Que ele possa estar em sua vida também!
Aquele que transformou água em vinho ainda transforma realidades, faz milagres e muda corações de pedras em corações de carne. O Jesus que transformou água em vinho em Cafarnaum não poderia transformar qualquer outra coisa em sua vida? Faça tudo o que Ele disser e esteja pronto para viver os sinais/milagres que revelam a glória futura, o casamento de Cristo e a sua Igreja.