QUAL VISÃO SOBRE A MATERNIDADE VOCÊ DESEJA ABRAÇAR?

São pelo menos três visões sobre a maternidade que nos são oferecidas hoje. Uma delas, é a ideia que o nascimento de um bebê faz morrer toda a felicidade da mulher. Por esse ponto de vista, a maternidade passa a ser vivida como um filme de terror, em que tudo é colocado como pesado demais, triste demais, revoltante demais. Essa visão produz mulheres ressentidas e por vezes arrependidas. Em níveis mais extremos, pode até prejudicar a relação que essas mulheres constroem com os filhos, pois esses são colocados na posição de “bodes expiatórios”, sendo culpados (injustamente) pelas frustrações maternas.

Outra visão sobre a maternidade vai por outro extremo, é a visão de que a maternidade é a fonte de toda a satisfação e felicidade. Que uma mulher só pode ser plenamente feliz e inteira se tiver filhos. Por esse viés, as mulheres colocam o status de “ser mãe” como o significado central de suas vidas, onde já não há espaço para outras relações, outros projetos, outras demandas, e nem mesmo para Deus. Nesse caso, no lugar de Deus, elas esculpem um ídolo chamado “Filho”.

Mas agora, imagine as consequências da idolatria à maternidade e aos filhos. Imagine colocar sobre um bebê ou uma criança a obrigação de satisfazer nossos anseios mais profundos e nos proporcionar todo o amor e toda a felicidade. Com certeza, essa é uma exigência doentia e se torna um fardo pesado demais para qualquer ser humano carregar.

Porém, diferente das visões anteriores, existe uma terceira via, uma possibilidade de ver e viver a maternidade descentralizada do ego, em que o foco central não aponta para as minhas tristezas ou a minha felicidade ou realização pessoal, mas é sobre Aquele que me deu a vocação de ser mãe. Logo, existe a possibilidade de abraçar a maternidade como um chamado divino, onde o ser e o fazer se direcionam à excelência para a glória de Deus.

Ao olharmos para a vocação de ser mãe a partir das lentes do Evangelho, tudo muda! Mas não estou dizendo que a maternidade se tornará simples e fácil. Ela continuará desafiadora e complexa, com alguns dias nebulosos. Por outro lado, teremos os dias de deleite e felicidade, mas não para o prazer centrado em nosso próprio ego.

Pelas lentes do Evangelho, as dores e as delícias da maternidade se tornam vislumbres da graça de Deus, onde eu imagino o peso da cruz de Cristo ao vivenciar pequenas renúncias do meu eu, onde sou levada a servir um ser humano que não pode me oferecer nada em troca, assim como Deus nos ofereceu a si mesmo e somos incapazes de retribui-lo à altura.

Talvez, o máximo que podemos fazer em gratidão a Deus seja comparado a um cartão de dia das mães, colorido fora das linhas e escrito “eu te amo” com letras desalinhadas e invertidas. E se, diante de tal demonstração de afeto, uma mãe reage com lágrimas de felicidade, eu posso compreender mais um pouco sobre o quanto Deus é gracioso para conosco, mesmo sabendo das nossas limitações.

Na maternidade descentralizada do eu, é possível ter esses vislumbres da história da Redenção. É possível perceber no cotidiano a cruz, o serviço, a renúncia, a nossa filiação em Deus por meio de Cristo. É entender que a explosão de risos ao ver o bebê dando os seus primeiros passos é maravilhosa, mas não se comparará à alegria que iremos desfrutar na eternidade. A felicidade que a maternidade nos proporciona pode ser grande, mas ainda assim é muito limitada. Ela é apenas uma pequena amostra grátis do que será quando virmos Deus face a face e experimentarmos plenamente a sua presença.

Ser mãe a partir das lentes do Evangelho, também produz em nós a certeza de um chamado distinto de Deus, para que demonstremos a glória Dele, de uma maneira peculiar, que não poderia ser demonstrada por outra pessoa em nosso lugar.

A partir dessa perspectiva, somos convidadas a questionar: “Como eu posso exercer minha maternidade de modo a glorificar a Deus e contribuir para que meus filhos cresçam no conhecimento Dele”? “O que eu, enquanto mãe, posso fazer para que meus filhos tenham uma fé sólida nas Escrituras e sejam formados segundo o caráter de Cristo “?

Em resposta à essas perguntas, gosto de citar o exemplo de duas mulheres da Bíblia: Lóide e Eunice. Ambas foram citadas pelo apóstolo Paulo quando ele escreve a Timóteo, elogiando a fé sincera que ele tem, frisando que essa fé sincera foi recebida através de sua avó e de sua mãe, respectivamente. Paulo também ressalta que Timóteo conhece as sagradas letras desde a infância. Assim, podemos imaginar a grandeza do legado que essas mulheres deixaram na vida do pequeno Timóteo, e que repercutiu até a idade adulta, quando ele se tornou um pastor compromissado em viver e pregar o mesmo Evangelho que ele recebeu.

Paulo poderia ter citado um centro de treinamento para pastores, ou o seminário que formou Timóteo para o ministério. Mas não. O apóstolo ressalta como foi significativa a influência e o ensino materno na vida de Timóteo, transmitidos por três gerações, e foram cruciais para que aquele jovem pastor apresentasse uma fé sincera, robusta e sem fingimento.

Possivelmente, Lóide e Eunice entenderam a terceira via para a maternidade. Que é possível abraçar a proposta de Deus de manifestar a glória Dele e afetar poderosamente a vida dos filhos, e até mesmo dos filhos dos nossos filhos, em um legado eterno.

Assim, fica aqui o incentivo para que você celebre cada dia e cada momento que Deus te proporcionar junto aos seus filhos. Que você não perca nenhum vislumbre da graça Dele, mesmo em meio às fraldas sujas, às noites mal dormidas, ao drama do boletim escolar, a hora de ensinar o para casa, ao despedir dos filhos que foram para a faculdade, ao acompanha-los até ao altar no casamento, ou ao segurar pela primeira vez um neto nos seus braços.

Lembre-se que a maternidade é uma vocação preciosa que Deus te deu e ela não pode ser rebaixada como algo trivial e insignificante. Deus confiou uma ou mais vidas em suas mãos e ele pode te capacitar a fazer um bom trabalho para a glória Dele. Celebre isso com gratidão, tanto no domingo das mães, quanto no extraordinário dos dias comuns.

Respostas de 4

  1. Que riqueza de palavras,e inspiração, isso provém do criador, que nos presenteou, com esse dom, maravilhoso!. Obrigada Papai!!!A maternidade se renova em nós a cada manhã,tal e qual às as suas misericórdias, Paizinho!!!

  2. Obrigada, querida irma por esta reflexao valiosa! Oro para que mantenhamos a terceira visao possivelmente somente pela graca, para a gloria do nosso criado redentor!!!

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