REVELAÇÃO ESPECIAL (JOÃO 5.30-47)

Na teologia dizemos que Deus se revela de duas maneiras: de forma geral e de forma especial. De maneira resumida, podemos afirmar que a teologia da “revelação geral” diz que Deus deixou em sua própria criação elementos visíveis que testemunham o Criador dos céus e da terra (Rm 1.20-21). Entretanto, a “revelação geral” não é o meio pelo qual os homens podem ser salvos e conhecidos diante de Deus, é preciso que Deus se revele “especialmente” a eles, a fim de que estes, pela graça e fé, sejam salvos da sua miséria.

O evangelista, ao escrever sobre as boas novas de Deus para o seu povo (revelação especial), demonstra progressivamente os fundamentos para se crer em Jesus. Nesta passagem, cinco são os que testificam a favor do Messias:

(1) João Batista (v.33). O Deus Pai e Criador, para ser conhecido de forma especial, envia o seu profeta, o último nesta antiga função, representando “talvez” todos os seus antecessores e finalizando um ciclo na obra de preparar o povo de Deus para o Messias prometido.

(2) As obras de Jesus (v.36). As obras que Jesus realiza são testemunhas a seu favor, porque são obras divinas e de submissão ao Pai. As obras de Jesus são as obras de Deus, não podemos negá-las, pois estaríamos negando o próprio Deus.

(3) O Pai (v.37). O Pai testemunha “este é o meu filho” e este testemunho ouvido na terra e nos céus é suficiente para que todos creiam e recebam o Filho.

(4) O TanaKh (v.39). A Bíblia hebraica, o nosso Antigo Testamento, é quem aponta para o Messias. Cada capítulo e versículo, cada história e profecia, estão relacionadas para nos revelar de forma especial o Messias. Ela nos prepara a fé no Salvador, no Filho de Deus.

(5) Moisés (v.45-46). A lei mosaica estava no centro da tradição judaica. Ressalto que Jesus está conversando com Judeus que se sentiam na obrigação de fiscalizar a fazer valer a lei para o povo. Entretanto eles se atentaram as minúcias das leis e se esqueceram do seu conteúdo profético, preparar um povo para o Rei prometido.

Crer no que está escrito (Sola Scriptura)

A doutrina protestante “Sola Scriptura” é ponto fundamental para se compreender a teologia da “revelação especial“. Deus escolheu um caminho seguro e proposital para promover encontros de pecadores com o seu Salvador. Somente nas Escrituras podemos escutar e enxergar com os olhos da fé os atos providenciais e salvíficos de Deus na história. Esta revelação progressiva tem seu ponto alto em Jesus; “A Palavra de Deus encarnada”.

Hoje somos desafiados a crer nos fatos, nos firmes fundamentos das coisas que não vemos, mas foram registradas para o nosso benefício. Só nas Escrituras podemos observar e receber o testemunho de João e dos profetas, das obras de Jesus, da voz do Pai, do Tanakh e de Moisés. Eu sei que é um desafio da mente moderna crer em algo como as Escrituras, sem desconfiar de algum erro na formação da revelação especial. Entretanto, Palavras nunca foram uma novidade para Deus e o seu povo.

Nas Palavras de Deus, ditas e escritas, é que somos “chamados” à fé e à comunhão com o Deus que se revela de forma especial aos seus “eleitos”. Nas palavras de Jesus “Se não credes no que está escrito, como crereis nas minhas palavras?” (v.47)

Esses dias eu estava lendo alguns estudos de Calvino sobre a importância das Escrituras para a fé cristã e fui desafiado a crer ainda mais na Palavra e em menos ainda em quaisquer outras coisas que não estejam fundamentadas em sua Palavra. A doutrina cristã é fundamentalmente a doutrina das palavras de Deus: poderemos por acaso conhecer a vontade soberana sem com isto levar em consideração a direção primária deste Deus? Impossível!

Visto que a Igreja é o reino de Cristo, e que Cristo não reina senão por Sua Palavra, ainda vamos continuar duvidando de que são mentirosas as palavras daqueles que imaginam o reino de Cristo sem o Seu cetro, quer dizer, sem a Sua santa Palavra? (JOÃO CALVINO)

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