UM DEUS FIEL, A ALIANÇA E UM POVO INFIEL

A aliança de Deus com o povo de Israel no Monte Sinai é um dos eventos mais significativos de toda a narrativa bíblica. Nele, vemos o estreitamento da relação entre Deus e os israelitas, bem como a revelação do caráter santo Dele e a incapacidade do povo em permanecer fiel às suas palavras e estatutos. Mas para compreender melhor esse evento, precisamos relembrar algumas coisas.

Ao longo da narrativa de Gênesis, vemos um processo de depravação da humanidade e da intervenção divina. Esse processo tem início no pecado de Adão e se expande ao restante da humanidade (Gn. 3-11). Como forma de conter o avanço da perversidade humana e preservar as Suas palavras, Deus estabelece relação especial com alguns homens. Dentre estes homens temos Abraão, o primeiro patriarca. É com Abraão que Deus estabelece uma aliança; promete uma descendência tão numerosa como o pó da terra ou as estrelas no céu (Gn. 13.16; 15.5), a terra de Canaã (Gn. 13.12-18; 15.7-11) e que por meio dele, Deus abençoaria todas as nações (Gn. 12.1-3). Do capítulo 16 até o final do livro, vemos Deus agindo na história para cumprir suas promessas.

É preciso destacar uma profecia que Deus fez a Abraão e que nem sempre recebe tanta atenção: escravidão do povo. Em Gênesis 15.13-14, está escrito:

“Então o Senhor lhe disse: — Fique sabendo, com certeza, que a sua posteridade será peregrina em terra alheia, será reduzida à escravidão e será afligida durante quatrocentos anos. Mas eu castigarei a nação que os escravizar. Depois eles sairão com muitas riquezas”.

Como vimos no início do livro de Êxodo, o povo de Israel foi escravizado pelos egípcios, entretanto Deus os tirou da escravidão e fez com que os egípcios dessem-lhes bens valiosos na sua saída (Êx. 1-14). Em resumo, Deus permanece fiel à sua palavra.

Esse é o primeiro ponto que precisamos ter em mente ao olhar para a aliança de Deus com o povo de Israel no Monte Sinai; Deus é fiel. O Deus que prometeu uma descendência a Abraão, agora se apresenta aos seus descendentes e os chama para um relacionamento íntimo, como nunca visto (Êx. 19.4-8). Ou seja, Israel no Monte Sinai é Deus cumprindo a promessa feita a Abraão.

Isso é significativo pois Deus condiciona a manutenção da sua aliança à obediência do povo (Êx. 19.5). Não à toa, é afirmado que eles seriam “um reino de sacerdotes e nação santa” (Êx. 19.6), pois por meio da sua obediência refletiriam a santidade de Deus. O Deus fiel chama seu povo a ser como Ele é. Para que os israelitas refletissem o caráter divino, Deus entregou a eles dois grupos de obrigações: Os 10 Mandamentos (Êx. 20.1-17) e o Livro da Aliança (Êx. 21.1-23.33).

Os 10 mandamentos, mais tarde, seriam chamados de “as dez palavras” ou “as palavras” (Êx. 34.28; Dt. 4.13; 10.4). Eles apontam para o valor moral da aliança de Deus com seu povo, pois não apresentam punição, mas apontam para ações, desejos e pensamentos que o povo deveria desenvolver ou evitar. Neles temos a santidade de Deus e a pecaminosidade do povo evidenciados. O único Deus verdadeiro chama um povo idólatra a adorar somente a Ele. E assim, cada um dos mandamentos nos apresenta um Deus todo poderoso e nos alerta sobre nossa pecaminosidade.

Enquanto os 10 mandamentos compõem as principais obrigações do povo, o Livro da Aliança (Êx. 21.1-23.33) é a expressão prática dos mandamentos, composto por “leis” que deveriam reger todos os aspectos de suas vidas. Com isso, a Aliança de Deus com a nação de Israel é representada pelas obrigações morais e práticas do povo. Porém, ao observar o desenvolvimento da história, vemos os israelitas quebrarem a Aliança, logo em seguida (Êx. 32); o que evidencia a dureza do coração deles.

O diálogo que se segue entre Deus e Moisés é de uma beleza sem igual! Deus aponta o pecado do povo (Êx. 32.7-10); Moisés lembra a Deus da aliança que Ele fez com os patriarcas; Deus volta atrás no seu juízo (Êx. 32.14); manda matar os idólatras (Êx. 32.25-29; Moisés intercede pelo povo (Êx. 32.30-35) e Deus então promete enviar seu Anjo, pois Ele não mais estaria no meio do povo para que não matasse toda gente (Êx. 33.1-11). Temos nesses relatos um resumo do relacionamento de Deus com os israelitas por todo o Antigo Testamento: Deus chamando o povo a comunhão e ele permanecendo infiel.

Por inferência, podemos afirmar que a infidelidade dos israelitas é também a infidelidade da humanidade. Ou seja, a história bíblica é a história do Deus fiel chamando a humanidade infiel para a comunhão. Com isso, temos um problema que fica evidente: a aliança de Deus com Seu povo não alcança a sua plenitude devido à infidelidade do homem.

Cristo: O Deus-homem fiel e uma aliança superior

Diante da incapacidade do homem ser fiel a Deus, Ele se mostra fiel enviando o Deus Filho na natureza humana, para que por meio da fidelidade de Cristo (Mt. 5.17) uma nova aliança fosse estabelecida com os homens (Hb. 8). Aliança que possui promessas superiores (Hb. 8.6), onde as leis de Deus são impressas na mente e escritas no coração (Hb. 8.10).

Deus prova fidelidade à Sua palavra, enviando o Deus Filho em natureza humana, cumprindo a promessa do descendente da mulher, de Abraão e Davi. Sendo ele totalmente homem, cumpre toda a lei de Deus e assume sobre si os nossos pecados como cordeiro sem mancha (inocente) que é sacrificado para perdão dos pecados do povo.

Em Jesus Cristo a antiga aliança alcança sua plenitude e uma nova aliança surge. Pois, como o autor da carta aos Hebreus bem mostra, mudando o sacerdote muda-se a aliança (Hb. 7.12), bem como, o sacrifício de Cristo é superior ao sacrifício de bodes e de touros (Hb. 9.13,14).

Agora, por meio da aliança de Cristo, podemos nos achegar a Deus e permanecer fiéis a Ele pelo Espírito Santo que nos capacita a realizar a Sua vontade. Em suma, Deus assume a natureza humana para compartilhar conosco da sua natureza divina, por meio do Espírito Santo.

Tendo exposto tudo isso, com as palavras do autor de Hebreus, peço que permaneça na fé em Cristo e na aliança que Ele estabelece:

Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hebreus 10:23-25).

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